terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Ferida

Minhas mãos apalpam todo o sangue do meu corpo...
Quem me dera poder estancar a ferida!
Mas eu arranjo meio termos para tudo...
(...)
Só sobrou aquela névoa entorpecida.
Só restam lembranças de palavras vazias...
Foram as angústias com o vento.
Foi o descaso pelo tempo.
E ficou o ser mutilado.
(...)
Feridas por cima da carne.
E cicatrizes por baixo da pele...
Soa a voz suave que me abraça.
E eu a ofendo e a mando ao frio do inverno...
Não tive coragem de abraçá-la novamente!
(...)
Mesmo que isso seja a minha redenção...
Flores aparecem com tons cinza.
Tente se desprender da minha vida.
Pois ela já é quase morta.
Sem brilho e se ofusca cada vez mais...
(...)
Felizes daqueles que se prendem.
Se prendem as pestes da nova idéia!
O que se reflete no espelho?
Outra ferida aberta!
E outra se cura sozinha...
Outra sempre fica exposta na vitrine...
(...)
Não sei bem o que sinto.
Por aqueles entes que não conheço.
Irmão mais velho que nunca fez nada.
Ricochetarei mais versos em suas costas!
(...)
O amargo da imensidão profunda.
O vácuo do esquecimento.
O descasco da ferida.
O sangue que nasce da fonte d’água.
O riso sem sentido.
O mar que arde em chamas!
(...)
Minha estrela se apaga com um sopro!
E a minha vida parece um horizonte confuso...
Meu lugar está ocupado por meu inimigo.
(...)
Corro entre as balas perdidas.
E elas perfuram meu peito...
Morro mais a cada dia!
E isso nunca termina...
Ninguém me joga no chão para o tiro de misericórdia...
(...)
Eu passo fome, mas nem me importo.
Importância pra mim é crime.
E suicídio é crime sem fiança.
Me banho de sangue todos os dias...
E não corto meus pulsos!
(...)
Mais uma carta de morte escondida...
Mais areia que engulo.
E nascem mais espinhos,
Ao invés de crianças!
(...)
Sem flores vermelhas e nem brancas...
Ninguém pode decifrar o que digo.
Apenas o mar que me afoga.
(...)
O pó tem em todo o lugar do universo.
O prazer de compor uma música.
O prazer de se cortar mais um dia.
O prazer de encontrar a lua...
(...)
E a dor por carregar a escravidão das chances!
E a minha voz se cala.
E as flores florescem em mais uma noite de insônia.


Jeferson Guedes

sábado, 19 de dezembro de 2009

Que insiste e que respira.

Reciclando provérbios
E sentindo muito mais dor que antes.
A solidão se transformou em meu paraíso.
Poucos conseguem chegar a esse extremo.
Minha vontade é pela ausência que clamo.
Meus cortes são em auto-relevo.
Felicidade pra mim é utopia.
Tudo o que vivi
Tudo o que passei
Fez-me ser isso,
Não sinto nenhum pouco de orgulho
Com esse ser que sou
Que insiste e que respira.
Se pudesse ateava fogo.
Em tudo que me deprime.
Mas se eu não for isso!
Não me vejo sorrindo também.
Como Fábio Altro disse:
“Sou um estilete sem cabo...”
Também acho que sou assim.
Sem querer machuco as pessoas.
Apenas por eu ser eu mesmo.
Ninguém me conhece.
Ninguém conhece ninguém.
Uma hora eu recito versos
Olhando você sorrir.
Outrora desgraço tudo
E não perdôo ninguém.
Com um olhar cheio de ódio mirado ao céu.
Se eu fico quieto em qualquer canto,
Mesmo que eu durma não me acorde.
Apenas me deixe e se afaste.
Se afaste o quanto puder.
Deixa-me evaporar com o vento...
Deixa-me tentar ser levado com ele.
Para qualquer outro lugar.
Desculpa se te fiz chorar e sangrar.
Mas eu sou um estilete sem cabo.
Ou qualquer coisa que corte e deixe marcas.
Não tenho uma linha aberta de raciocínio.
Apenas penso por estar pensando que penso.
Aquele grito de ódio e agonia.
Dor e injustiça.
Doença sem a cura.
Hoje quero morrer.
Sempre quis morrer.
E não teve nenhum dia
Que essa chance não me passasse pela cabeça.
Queria ter nascido morto.
Minha mãe me deixou vivo.
Mas não me livrou do meu desatino de morrer.
Deve ser o extremo da tristeza.
Ter que enterrar um filho.
Mas eu não pedi pra nascer.
Ninguém pediu pra nascer.
Por isso acho que posso morrer.
Sem sentir culpa.
E nem me sentir egoísta.


Jeferson Guedes

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Também sinto saudades. Nobre princesa do norte gelado!
Quem me dera eu. Eu estivesse ao seu lado em suas noites de insônia. Quem me dera possuir teu corpo e tua mente. Todavia fico em vão aos seus crentes olhos castanhos. Mas ainda sinto o perfume de seu cabelo quando por acaso acordo. Quando penso que não foi apenas um sonho. Tu foste pra longe. Isso me corta e me mata. Morro. Sim, morro possuindo lembranças da imensidão do seu ser frágil e ameno... Isso me faz querer ainda te procurar entre o inverno e o outono.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Cego com um tiro no escuro.

Ele permanece quieto.
Tenta esconder até o barulho de sua respiração.
Não há mais ninguém com ele.
Haveria se ele desse uma chance.
Mas sempre fez questão de ficar sozinho e em silêncio.
As suas lembranças sempre o machucam tanto...
Ele não abre mais seus olhos no escuro.
Tem receio que aqueles jovens olhos mortos o perturbem novamente.
Ele solta a fumaça devagar...
Como se parecesse que era a última vez que fumava.
Mesmo que se alegrasse não conseguia esconder a tristeza.
Ele precisava de um horizonte mais perto.
Que não esticasse tanto sua visão.
Ele fica mudo.
Quase não consegue ver suas mãos.
Acho que desistiu da vida.
Acho que sente preguiça de viver.
Acho que o desgosto agora é quem comanda seus passos.
Ele gosta das metáforas das fábulas...
O seu céu não é tão azul e cintilante.
Nem mesmo o vento traz de volta.
Mais motivos para sentir.
Sentir frio ou febre.
Calado e cego.
Assim que vivia.
Sem ter sonhos.
Nem ambição.
Pensamentos não traziam de volta.
Ninguém o trouxe de volta.
De seu canto sujo e escuro.
Tanto como a noite.
A noite não é escuridão.
Ele pensava.
Pensava em sorrir.
Mas não conseguia.
Morria aos poucos.
Mas morria.
“Não há sentido além da morte, não há razão além do prazer.”
Ele concordava e discordava em partes.
Partes que não são iguais.
Tudo que é recíproco é falso.
Só pode ser falso.
Pois ninguém é recíproco.
O quanto às pessoas gostariam.
Ele solta fumaça.
Seus olhos permanecem em silêncio.
E aos poucos se tornam rubros.
Angústia depravada.
Felicidade anti-recíproca.
Ninguém tem motivos pra sorrir.
Exceto pelas conveniências.
Tolas e vulgares.
Todos querem ver o nosso narcisismo fútil.
Piada sem graça.
Rude com os pais.
Rude com todos.
Todos o representam uma ameaça.
Todos sorriem.
Ele odiava ver esboços de famílias perfeitas.
E muito menos ver pessoas sorrindo.
Sentia ódio pela vida que foi concedida.
Através de um erro banal.
Então ele dorme sempre com sua arma engatilhada na cabeceira.
Ele pensa.
Ele chora.
Ele tenta.
Não consegue.
Não consegue viver pra sempre.
Com tantas farpas nos olhos.
E contava os dias pra que tudo terminasse.
Seguia a esmo uma vida de mentiras.
Uma vida que parece uma fábula.
Mas sem metáfora.
Fábula que não tem final feliz.
Que não tem nada.
Nem mesmo palavras.
É apenas um livro vazio.
Que todos podem imaginar um conto.
Mas ele não via nada.
O livro não tinha capa.
Apenas um punhado de folhas brancas.
Como se fossem folhas brancas de uma árvore morta.
Arvores mortas não purificam o ar.
Todos sabem disso.
E todos querem morrer sem ar.
Todos ficam sem ar após a morte.
E após a tormenta.
Vem a calmaria.
Mas ele não acredita em calmaria.
Só na tormenta.
Que viram os barcos.
E afogam e ao mesmo tempo afagam os marinheiros.
O destino da morte dos marinheiros é morrer afogado.
Pra não ser contraditório.
Ele olha pela janela e não vê nada.
Pois é quase cego.
Ele grita pela janela e ninguém escuta nada.
Pois é quase mudo.
Muitos esperam encontrar a alegria através do narcisismo do outro.
Mas ele não tem narcisismo e nem alegria.
Quanto mais o tempo passa.
Mais percebe que seu futuro não existe.
Porque ele não sai do lugar.
Ele não se move.
Não busca estrelas.
Porque o céu pra ele não diz mais nada.
Um estrondo.
Ele cai.
Seus olhos agora se tornaram cegos de vez.
Ele não estranha isso.
Pois fazia muito tempo.
Que tinha se acostumado.
A não enxergar e a não viver.
Cego com um tiro no escuro.




Jeferson Guedes

05/12/09