terça-feira, 30 de novembro de 2010

Pra eu poder dormir

D’outra vez mais
me descubro
pra dormir
já fui estrela
que se apagava
já fui janela
sem vidraça
sem lembranças
d’outra madrugada

oh! Sonho terrível
aflito
outra vez me debato

na cama
que fiz dela
meu poema
sem sentido
nem começo
nem meio
muito menos
o meu fim

pois, bem sei
és meu sonho
d’outra vez terrível
agora
de tanta paz
que, bem sei
é infinita
Oh! paz que eu preciso!

pra eu poder dormir



Jeferson Guedes

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Palavras

Finjo-me de forte.
E tento engolir as palavras.
Eu perdi o meu escudo
E a tua espada
Atravessou meu peito.
Cai no meio do gramado,
Pensando que fossem estrelas...
Com algumas palavras sufocadas,
Pelo sangue, e pelo meu apelo de clemência.
Um golpe de morte
Tão frustrante que recebo
Todos os dias...
Giro o gelo no copo.
O gelo desaparece devagar...
E vagamente não tenho mais nada.
Nas mãos?
- Nada.
Nos olhos?
- Mentira.
Na mente?
- Tristeza.
No peito?
- Uma lâmina.
Levantei-me...
Mesmo cambaleando.
Olhei-te.
E me perdi no meio das palavras,
As quais jamais tive coragem para dizer.



Jeferson Guedes

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Em outras tardes

Talvez
Me abrasses
Em outras tardes
E diga do fundo do peito
O que te cativas
Por eu ser
Eu mesmo
Não ser outro

Nem os pensamentos
Que não quero mais ter
Pra não me ver
Refletido no espelho
A mesma imagem
Que eu fiz
Pra tentar ser outro
Não eu mesmo

Mas se te cativas
Quero sempre
Ser eu
E te ter
Em outra tarde
Que eu não tenha
Nada a dizer
Nada pra pensar
Só sentir
Que estou vivo
Ou me faço de vivo
Só pra possuir
Outro abraço
Em outro entardecer
Que seja
Puro
Que seja
Inesperado


Jeferson Guedes

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Enquanto eu olho a estrela

Será que és tu,
Que estás a me vigiar?
Ou sou eu...
Que de tanto te olhar,
Toco o céu
E rasgo as nuvens,
Para poder pensar...
Se, é eu que estou
Sempre a te zelar?
Ou se és tu que estás
Sempre a me vigiar?



Jeferson Guedes

De tanto que olhei

De tanto que olhei
achei uma estrela
que é só minha
de ninguém mais
Ela sempre está
naquele lugar
que só eu sei
e no embalo
do meu peito
ela brilha sempre
brilha cada vez mais



Jeferson Guedes

Bipolar

Eu tenho momentos
Um momento que se faz
de treva
outro tão ameno
quão a primavera
É um dia após o outro
Um em que estou coberto
de pura raiva e descaso
Já o outro
estou sorrindo sem saber
sem mesmo querer

Eu sempre sou
cara ou coroa
Nunca se repete
Nunca estável
Sempre diferente
Sempre oscilo
entre um olhar de ódio
Outro de pura graça
Dois pólos
Dois opostos
em um único ser
que só sabe sorrir
outro dia
só sabe sofrer



Jeferson Guedes

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Sem vontade

Estrangulei o meu sorriso
Perdi a libido da vida
Queria poder me perguntar
Mas a minha fala não se ouve mais
E sempre fico no chão
Com espinhos nos olhos
Me sentindo horrível
Eu joguei o resto da bebida
Da mesma forma
Que fiz da minha esperança
O que esperar?
Os dias sempre passam
E sinto que os dias
Sempre são iguais
Da mesma forma
Que a minha vontade
Parece secar
Junto da bebida
Que deixei
À vontade
Na calçada



Jeferson Guedes

sábado, 6 de novembro de 2010

Divã

Ontem o dia não fez tanto sentido. Sei lá, eu estava inquieto. E o dia passou, como se fosse qualquer outra sexta-feira clichê. Mas pra mim soava alguma coisa errada. Eu estava triste, como sempre estive, mas essa sexta-feira que se passou... eu estava no cume da tristeza. Não entendo. O que houve comigo ontem. Cheguei em casa. Fumei um cigarro. Escrevi. Não me senti bem. Deitei. Não tive mais vontade de fumar. Passou horas... Eu ainda estava do mesmo jeito, com a cabeça embaixo do travesseiro, querendo sufocar. Essa sexta-feira, que já morreu, eu só pensava em como a morte viria pra me pegar. Dormi. Abri um olho... E vi uma sombra perto de mim... Fiquei um pouco assustado com isso... Entretanto, logo percebi que era por causa da luz do computador. Eu ainda tenho medo, pensei. Voltei a dormir... Tive um sonho estranho... Eu vi nesse sonho a minha avó me encontrando ensangüentado na cama. Chorei um pouco, desejando sumir de vez da vida das pessoas... Não queria ninguém perto de mim. Não queria falar com ninguém... Simplesmente não queria estar vivo. Não queria ter lembranças... Não queria ficar mais triste. Não queria ter optado por um caminho tortuoso que nunca se acaba... Ontem passou. Sexta-feira morreu... Sábado chegou... Chegou antes da hora. Eu não dormi muito bem... Sei que abri os olhos, e vi a luz do dia entrando novamente... Fiquei um pouco mais triste por isso... É outro dia... E pelo jeito não vai mudar tanto. A minha vida nunca parece mudar. Sempre é a mesma coisa de sempre. Não sei. Sabe... Tipo de você achar que ninguém se importa? Se tu chegar de ir... Pra não voltar mais... Pra não ter mais nenhum momento junto de ninguém. Ser esquecido. Acho que tudo na vida é esquecimento, quando não se valoriza as lembranças...

Não sei

Não sei
É a minha resposta pra tudo
Mesmo sabendo
Eu ainda não sei
A minha velha certeza
Que eu sempre soube
Que nunca ia saber de nada
Eu não sei
Continuo não sabendo
Apenas não sei
Nunca vou saber
O que há de tão errado
Em tudo o que vejo
A velha certeza
De ainda não ter a resposta
E a única palavra que eu sei dizer
É:
Não sei


Jeferson Guedes

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Carrego dentro do que sinto

Carrego dentro do que sinto:

A mágoa de quem se foi.
A incerteza de quem se foi,
deixado.



Jeferson Guedes

Lembro

Eu sempre lembro
Das vezes que desejei tanto
Ter meus olhos arrancados
Fora do meu rosto
Fora de tudo o que é tirado
Hoje eu lembrei de quando criança
E a pouco quando me olhei
Nesse espelho quebrado
Não mudou tanto
A tristeza da vida
Carrego desde pequeno
E ela nunca foi embora
Sempre ficou
Eu e a minha tristeza
Tenho doença nos olhos
Acho que nem merecia ter
Nem a doença
Nem meus olhos
Pois nunca me vi feliz
Nunca me vi bem
Hoje eu lembrei de volta
Que eu sempre fui morto
Jamais vivi
Jamais sorri
Hoje eu queria apagar
Da mesma forma
Que o sol apaga no horizonte
Mas eu não queria
Nascer de novo



Jeferson Guedes

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Perdido outra vez

Meu olhar parado
respondendo a fumaça
que some pelo ar
até me sinto com inveja
de não poder sumir
feito fumaça

É,
cá estou eu
outra vez
me sentindo
perdido
e
esperando poder
me encontrar
junto de você


Jeferson Guedes

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Ser estrela

O outro espera que tu brilhes...
Toda vez que olha para o céu.

É difícil e triste
Ser estrela.


Jeferson Guedes

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Uma outra vez mais

Eu não sei
O que fazem meus olhos
Ficarem cegos
Queria
Ver a luz
Só outra vez mais
Mas eu não sei
O mundo me trouxe
Só o que
Eu nunca quis ver
Eu não sei
O que o mundo espera de mim
Eu não espero nada do mundo
Eu jamais esperei
Chegou à hora de eu ir embora
Pra não voltar mais
Nunca outra vez mais
Sem luz
Meus olhos se apagaram
E eu já não sei
O que fazer
Eles não enxergam
Até mais
Vou embora
Quem sabe outro dia
Eu fique
Outra vez mais
Mas eu sei que
Cultivar esperanças mortas
Não me fazem bem
Por isso
Vou embora
Pra nunca mais ter
Uma outra vez mais



Jeferson Guedes