domingo, 25 de outubro de 2009

Escuridão com luzes acesas

Não temo mais a escuridão de meus olhos.
Não me deixo estremecer,
Nem mesmo pela noite de meus sonhos.
Aquela escuridão pode fazer bem,
Para aqueles que não sentem a luz,
Que pousa pela janela.
E o vento que desarruma a cortina
Pode o céu estar nublado?
Sem ter a chuva para molhar?
Hoje ela não me trouxe de volta.
Mas deixou em minhas mãos,
A sua rosa mais vermelha.
Vermelha como o sangue que brota...
Pelas ruínas das construções que eu fiz,
Sem ganhar nada em troca.
Fiz porque me sobrou tempo.
Gastei o tempo que tive para sonhar.
Erguendo meu muro de tijolos.
Que sem mais e nem menos caiu.
Com a primeira brisa que ameaçou,
Bagunçar o meu cabelo.
Apenas por acreditar que estava vivo...
Essa lamina se tornou tão cega,
Quanto meus olhos opacos.
Por fim me declarei mudo.
E não pude dizer mais uma palavra.
Se dissesse seria a palavra errada...
Minha vida me trouxe de volta.
A órbita contrária...
O que farei de minhas noites mal dormidas...
Agora que não tenho tempo para me devanear.
Já procurei tanto por aquilo que nunca existiu.
E pude ver todos,
Que ali permaneceram sem ter ar para respirar.
Se a noite é apenas o dia.
E o dia é a apenas à noite mal dormida...
Não posso mais sonhar...
Apenas quando terminar,
De recuperar a poeira do meu cabelo...
Que a chuva lavou sem eu ter pedido,
Voltarei a pensar na vida sem ter tantas complicações...
Estou certo que acharei outro caminho para andar,
E não ficarei mais perdido nessa trilha.

Jeferson Guedes

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Mesmo que seja

E se por acaso meus lábios dormirem, onde estará os seus para me acordar? Por que gosta de me ver? De me tocar? Eu não posso ser a pessoa certa e que te mereça em meus braços. A causa disso tudo é a circunstancia em que vivemos. Se eu vivo, não resisto sem te abraçar. Sinto-me tão vulnerável a meros carinhos, mas já devia desistir de ser tão carente. Não quero e não gosto de me imaginar sem você por perto. Devia ser mais compreensivo contigo. Acho que não devo entender dessas coisas. Sempre fui só eu, eu e a minha sombra. Não posso ser o ideal para alguém que tenta se prender. Mas de certa forma eu mesmo, mesmo que não queira me deixo levar por sua brisa. Tu que és tão pura, tão doce, tão afetuosa em seu modo de ser, e eu já sei tanto... Não posso me prender a inocência, mesmo que minha adolescência fora tão perturbada, cheia de ódio, cheia de mágoa, mágoa que deixei ressecar com o vento. Antes não tinha vícios, agora são eles que me cobrem quando pego no sono. Você tenta me resgatar do naufrágio, mesmo que eu me segure nas partes que não bóiam e queira ficar no fundo do oceano, mesmo sem forças você me devolve a vida e o ar. Vida de incertezas... A minha única certeza é que você existe! O resto do mundo eu ignoro. Não por querer, é porque para mim, você é tudo que me faz se importar. E mesmo que tudo não passe de uma ilusão, desprendida do meu destino, morreria de sede se acaso me deparasse no deserto mais quente, se visse a tua miragem afastar de mim o meu cálice. Queria talvez que fosse de outra forma, mas não é. Mas se for para ser assim e no final der certo. Apostaria tudo que tenho em você, mesmo que eu aja de maneira incerta e duvidosa, queria que acreditasse em mim... Nem que se fosse apenas por um instante. Nem que minha vida prossiga por pouco tempo. Apenas queria que você soubesse que não fiz pouco e por ti que tentei viver mais. Sempre segui minha vida me depreciando, deixando em segundo plano tudo que na verdade importava. Daria minha vida sem pensar muito por você. Queria fazer parte de você em quaisquer outras dimensões que venham a existir. E se meus lábios dormem, eles dormem em ti, faça eu me sentir adolescente de novo. E me transforme em seu eterno namorado, amante, amigo, fogo, luz, chuva... Ou qualquer outra coisa que te faça sorrir e esquecer os desatinos do dia a dia. Mesmo que seja por um instante. Esse instante pode valer muito e ser mais alto do que as montanhas.

Jeferson Guedes

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Raios em seus olhos

Essa tranqüilidade do tempo em que vivo hoje, me faz querer ouvir qualquer coisa, um gemido, um grito, um latido, um trovão. Seus raios a me perseguir sem mesmo estar chovendo. Superando até a minha vontade de ser eu mesmo. Já não penso em tentar vencer o vento, deixo apenas que entre sem bater na minha janela. Seu cheiro pode ter desaparecido de mim. E a minha marca de nascença também pode ter sumido. As ruas são geladas e frias ao mesmo tempo. E seus raios ainda me perseguem sem ter êxito. Pode até parecer que sigo a esmo. Porque meu mapa foi queimado para aquecer meu coração. Mas mesmo assim o calor não supriu meu coração gelado. E mesmo que não ouça você dizer meu nome por engano. Fico enganado e penso que meu nome não é esse que eu tenho desde que aprendi a falar. O tempo passa. E eu escrevo. Escrevo a esmo, disso eu tenho certeza, ou quase nada. Quase nada ou quase tudo? Queria que tu me desse à certeza. Mais um cigarro eu acendo. Mais fumaça que sobe e some, ela pode ter se transformado em um anjo com assas de fumaça. Ah lembrei daquilo que tinha esquecido e virado mito na minha cabeça, mas não posso ter cometido aquilo na certeza de ter feito, pois estava bêbado, e meus sentidos já não representavam meu corpo. E aquela chuva que me fez ficar doente por tanto tempo, já secou sobre meu ombro pálido. Posso até estar errado de pensar que aquele tempo passou, mas se passou tão rápido, acho que posso viver ele de novo. Quem sabe da vida? Apenas sei que ela gira em torno do universo alimentando mentiras. A primavera pra mim, não vale quase nada. As flores podem até aparecerem, mas elas morrem em qualquer outra estação. Então pra que comemorar? Comemorar dias fartos de nada? Dias que não ficam no lado bom da lembrança. Falo por mim. Posso até falar sobre mim. Mas se tu não entendes, então nunca irá saber o que na verdade sinto. Acho que devo ser uma obra de arte barata, feita por um mendigo, que de tão leiga é, se tornou muito abstrata a quaisquer olhos humanos. E já não temo mais seus raios, que solta pelos olhos, tentando acertar meu peito.
Jeferson Guedes

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Sol poente

Está sendo um tanto quanto erronia ao pensar assim de mim. Sabes que nunca lhe abandonei. Sabes perfeitamente que foi o sol poente que nos afastou... Mas ao se pôr do décimo sol, em seguida, olhe à esquerda, para a última linha do horizonte, e note que vou aparecer dentre as nuvens que não podem chorar. Percebas então, que, nunca lhe abandonei e espero que percebas também, que o lado vazio da sua cama ainda me pertence. Não a culpo por meu vício, nem por ter que respirar e muito menos por nossa ausência. Peço-lhe perdão, se não consegui estar presente, e não pude te fazer sorrir, por culpa desse sol de primavera, que sempre, sente prazer em queimar meus olhos, para que eu não possa te notar ao meu lado. O fato é que nunca lhe abandonei e jamais pensei por um segundo em lhe dizer adeus.
Jeferson Guedes

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Nau perdida

E a fumaça que deixo escapar pelas narinas me faz brotar o sentimento mais ridículo. Outrora já me vi bem... Mas agora... O tempo passa... Tão incerto que nem acredito mais nas horas. Quantos dias se perderam e minha nau ainda vaga sem um rumo definido.
Nesse mar que me afogo...
Afogo minhas recordações da esperança, dos dias que pensei ter tudo nas mãos... E o vácuo do meu pensamento me arrancou sem dar explicação. Quando nós não pensamos mais em nada vale à pena? Vale a pena não pensar em nada? Queria tanto dar um último adeus antes que meu relógio prossiga horas fartas de tanta queixa e solidão...
Sempre chega a hora que não pensamos em nada e agimos por extinto... Extinto natural dos animais irracionais.
Maldito seja o dia que me deixei viver.
E eu sabia que naquele momento estranho... Estaria prestes de deixar meu pranto comandar minha vida.
Minha nau já não mais flutua e sim se afunda nas águas que me afogo com gosto. Meus pulsos e vértebras já não rangem mais...
E a calmaria da água me trouxe a tempestade de volta ao meu mar... Sem mais sol poente. A noite agora se tornou eterna.
Não conheço cemitério sereno, a não ser o caminho esquizofrênico da minha mente atordoada, que é meu cemitério sem cor, sem túmulo, sem lamento.
Trago folhas de papel onde deixarei meu pesar por não agüentar ser tão forte que eu fui todos esses anos. Anos de espinhos sem flor na ponta do caule.
Quão forte pode ser um homem que não se aceita e não aceita o mundo. Pertenço talvez à outra época, porque não acredito nesse tempo e espaço. Todavia que já me fiz rir, mas acho eu, que, não estava me sentindo e aceitava tudo que me colocará contra a parede.
Tuas mãos tão calmas... Calmas, quanto ópio que fumava, aceitavam-me sem me olhar nos olhos.
Quão mais forte eu ficava naquele tempo que passou... Novos dias vieram e me levaram embora a força e a fé que tinha, em confiar no vento que tu sopravas em minha boca, e já não faz tanto tempo que choro sem ter lagrima.
Peço perdão a tudo. Perdão por não me aceitar, por não querer dividir o tempo contigo.
Nobre princesa.
Não se entregues ao dragão! Resista forte! Fracassei em tentar te libertar de sua masmorra.
Agora padeço no mar, por desistência e por covardia. Se tu soprasses o vento que me fazia ter a coragem que precisava nesse momento... Tenha certeza. Iria voltar ao rumo certo e vagar valente pelo mar até encontrar a masmorra, que te aprisiona na minha ilha do esquecimento.
Já morri e eu mesmo, velei meu velório, no espaço perdido do pensamento. Agora é o vácuo que faz os ventos irem para lugar nenhum.
Perdão. Não quero chorar. Não quero que percebas que não tenho mais lagrimas.
Por ti e por mim.


Jeferson Guedes