terça-feira, 31 de agosto de 2010

Agora já não me perco

Lembro das vezes
Que apaguei a luz só por gosto
De me perder no escuro.
Na falsa direção
De um simples olhar
Me atirei.
Como se todo o mundo
Estivesse caindo
Pra fora do plano.
Achei a direção certa agora.
Agora consigo andar
De olhos fechados.
Mesmo que o mundo caia.
Mesmo que tudo caia.
Mesmo que tudo seja tão escuro.
Eu continuo seguindo essa estrada...
E é a minha estrada!
Para os caminhos que desconheço.
Já não tenho mais medo de seguir.
E me atiro mais uma vez...
Na direção de um simples olhar.
Que clareia mais um caminho.
Que eu faço nascer
De simples momentos...


Jeferson Guedes

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Quem me dera ser poeta

Fica bem...
Ela sempre diz isso.
Ela sabe que eu não sei o que é ficar bem.
Eu gosto tanto de passar os dedos no cabelo dela.
Ela também gosta, eu sinto.
Depois que ela se vai...
O céu pra mim, já não tem o mesmo brilho.
Eu olho pra cima.
Vejo somente o céu.
Sem nenhum doce, sem nenhum sorriso.
Ontem eu cheguei em casa lá por meia-noite.
Sentei lá fora, no escuro do meu céu.
Acendi um cigarro.
Pensei: “nunca mais vou fumar de volta”.
Menti outra vez,
Pra mim mesmo.
Eu sempre penso tanto, antes de agir.
Mas nunca penso tanto, quando acendo outro cigarro.
Tantas reflexões sobre o céu.
E eu nunca vi Andrômeda.
O meu anjo da guarda caiu das nuvens, já sem vida.
Eu fiquei de preto,
Não por luto pelo meu anjo morto,
É que eu sempre uso preto.




Como disse Pessoa (meu poeta preferido):

“O mistério das alturas
Desfaz-se em ritmos sem forma
Nas desregradas negruras
Com que o ar se treva torna.”

O meu ar sempre se treva torna.
Talvez por eu não me atrever tanto.
E deixar que a minha vida se torne pranto.






Quem me dera ser poeta

Oh, quem me dera ser poeta!
Pra dizer tudo o que penso,
Que nem eu mesmo entendendo.
Faça
Aparecer do fundo do meu lamento,
Tudo o que eu sinto.
E o que penso.

Acho que das palavras,
Não sou tão bom assim...
E eu só espero
Que saibas,
Que no extremo do meu peito,
Bate um coração
Com tanto desespero
E ele bate
Apenas por ti.





Jeferson Guedes

domingo, 29 de agosto de 2010

Poema daquele dia

As respostas sempre mudam de sentido
E sempre o vento também muda de sentido
Mas o sentimento é sempre o mesmo
Quem sabe eu ache a minha verdade
Atrás de qualquer sorriso
Atrás de qualquer gole de vinho
Na minha cabeça
Sempre tem um poema
Sempre penso nos versos
Que me fazem bem
Talvez a tua clareza
Me traga a paz da certeza
De não ficar tão só
Deixo meus dedos
Falarem por mim
Deixo a tua boca
Calar os meus desejos
E eu deixo me lembrar
De outro poema
E depois que passa o momento
Lembro daqueles mesmos versos
Daquele mesmo poema
Daquele mesmo dia
Já passado
Já vivido
Mas não morto
Pois os poetas
Os poetas
São eternos



Jeferson Guedes

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Sorri por descaso

Eu sorri
Por descaso
Eu me vi
Nos teus olhos
Virei pra outro lado
Pra disfarçar
Mas eu ainda
Sentia você me olhando
Eu sorri
Por descaso
Desmanchei
O meu cabelo
Te puxei pra
Um canto
Também desmanchei
O teu cabelo
Quando te beijava
Me senti
Sujo e imundo
Por sentir
As coisas mundanas
Não me senti
Culpado
Mas
Eu apenas
Sorri
Por descaso


Jeferson Guedes

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O bater das nossas asas

Ninguém nos conhece
Nem nós mesmos
Tentamos fingir toda hora
Mas nós sabemos
O que acontece
Quando fechamos os olhos
Sabemos
Tentamos fugir toda hora
Quem sabe,
Nós erramos
Essa não era a hora certa
Fingimos tanto...
Sabemos o que há no fundo
No fundo do peito
Carrego apenas um corte
Mal feito
De tantos sentimentos
Com uma tatuagem de algum pássaro
Que nem eu sei qual é
Não sei se o pássaro canta
Bem sei
Tem asas
E por isso é um pássaro
Certa vez
Pensei
Que tu ouvisse o bater das asas
Não era o pássaro
E sim
Meu coração
Batia tão acelerado
Nós fingimos
Não ouvir
Sei que
Ouvia também o bater
Das suas asas
Bem sei também
Era teu coração
Bem que
Podíamos ter voado mais alto
Podíamos ter nos afastado de tudo
É...
Um tiro
Os pássaros caíram
Mas continuam voando
E mesmo assim
Continuamos estar fingindo
Não ouvir o bater das asas
Sim...
Elas ainda batem
Dentro do meu peito
E dentro do seu
É um bater não tão forte
Os pássaros estão apenas
Sentindo o vento
E voando pra qualquer lado
Sim...
Eles irão pousar um dia
Ninguém pode voar pra sempre
Sei que
Vou me abrigar em qualquer galho
E sei
Você estará ao meu lado
Mas nesse tempo
Percorrido
Por esse céu azul
E às vezes estrelado
Estamos fingindo
Não estarmos
Mais voando




Jeferson Guedes

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Talvez meus passos

Aquela noite
Voltei pra casa
Com os olhos
Mirados ao chão
Meus passos
Seguindo
Com tanto descompasso
Mas só olhava pro chão
Não sei bem
Parecia que eu procurava
Mas não sabia o que era
Naquele trecho
Naquele chão
Meus passos
Perdidos
Caminhando
Procurando
O caminho de casa
Não sei
Aquela noite
Senti
Que
Me faltava algo
Algo que eu nunca tive
Eu sei que faltava
Eu olhava só pro chão
E não achava nada
Meus passos
Trilhados
Aquela noite
Não tinha certeza
Que ia conseguir dormir
Aquela noite
Alguma coisa me faltava
Mas não estava naquele chão
Naquele caminho
Que eu voltava
Naquele espaço
De tempo
De tudo aquilo
Que me assombrava
Sei que algo faltava
Acho que eu deveria
Não ter olhado pra baixo
E sim olhado pra cima
Que só as estrelas
Me deram segurança
Por todos esses anos
De tantos passos
Driblados
De tantos passos
Em vão
Talvez
Se tivesse olhado
Praquele céu
Eu teria voltado
Não teria perdido
Aquilo que eu mesmo
Não sei ao certo
Sei que perdi
Algo que eu nunca tive
Aquela noite
Ah, se eu tivesse olhado
Pra cima e não pra baixo
Talvez
Meus passos
Não me deixariam
Perdido
E sim
Ter
Te encontrado


Jeferson Guedes

É tão fácil

É tão fácil
Sofrer
É tão fácil
Deixar de sofrer
Às vezes eu me pergunto...
Porque não deixo de sofrer?
Ora! A vida não é bem assim...
Pessoas, lembranças...
Tudo na vida
Morre
Por culpa do tempo
Ou doença
Se da vida eu só tiro cortes
Não sei...
Porque não dar fim...
Não sei até quando vou conseguir
Todos os dias...
Eu tiro alguma farpa
Alguma recordação
Alguma impossibilidade
De sorrir
De dar "bom dia"
De tentar parar de fumar...
Parar de beber tanto...
Mas sempre me atiro nisso
Mudo minhas idéias
Rápido demais
Mas já estive bem...
Não faz muito tempo...
Mas não sei o que pensar
Só sei
O que é morrer
O que é sofrer
O que é corte
Ora!
Já me tiraste sorriso!
Tu sabes que eu falo isso da boca pra fora
Tu sabes que és meu tudo!
Bom...
De ti tenho boas recordações
E quando te tinha em meus braços
Eu era feliz
Era feliz e não sabia
Pois bem...
Não quero mais voltar
Acho que felicidade
Eu não mereço
Ora!
Me dá um abraço
Ou um tiro!
Já estou cansado
De tudo isso...



Jeferson Guedes

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Garotos não choram


Então, meus caros leitores, esse texto que vou postar... É de autoria de um grande amigo meu, que não deixa de ser um ótimo escritor! Mas ele prefere ser um "escritor de gaveta" (rsrsrs), pois bem... Ele fez essa crônica pra mim... Bem sei, que, não mereço... Não mereço mesmo... Mas aceitei de todo o meu coração. Demorei pra postar... Desculpa, Toni. Mas eis aqui, teu texto que tanto me encantou, obrigado de coração.


Garotos não choram


Assim como Ícaro segue rumo ao sol, e não podendo confiar em suas asas, imos rumo ao que nos é concebido e te peço que traga um pouco de sombra, apenas.
Vê que não te peço ilusão?
Faz parte de alguns de meus passos em que estivemos vivos e por meio deste, não venho lhe consagrar e nem pedir ou medir nem encontrar outro alguém de tua iguala, um alguém com o teu nível de pudor, ou indiferença... Porque todo horizonte é vasto de incerteza e somos essas pessoas que o vento chama ou que grandes tribos rejeitariam.
Mas nestes instantes em que nossas almas estiveram em alto nível de perseverança em insanidade perpleta, sou incerto até eu dizer que és uma pessoa em que deposito grande e vasta saudade de tempos, uma certa nostalgia infinita em que podemos tirar dias a contar...
És meu melhor amigo, isso pode não parecer assim tão perceptível, mas é! Assim que lhe identifico “na palidez desse pessoal”.
Não encare isso como linguagem ou consolação.
És um grande amigo que tenho e só por hoje saiba disso.
Mesmo que não creia em que eu creio.
Mesmo que não possuímos o mesmo Deus...
Apesar de tudo isso.
Sempre traga suas sombras, apenas...
Somente isto, faz com que você se diferencie dos outros e nossa passagem continue sem saber até onde vamos – de instintos diferentes, mas a rebeldia devasta, considero você como meu irmão, só que nunca moramos juntos isso é o que difere apenas.
Esta noite acaba assim.
Mas amanhã meus pés novamente pisarão ao chão, como sei que estará lá...
Nossa corrente é feita de instantes, mas estes já são caóticos do resto que sobra...
Nossa misericórdia se difere.
Mas sincronizamos o mesmo timbre e talvez levemos apenas isso para nosso tumulo, do resto de nossas vidas... Este dia vai chegar e quem irá levar antes, estaremos lá e lhe direi adeus, apenas isso como um último “falo cara” e me virarei, saindo com passos, em bestos de ausência de suas sombras...
E num ultimo adeus, choverá em nossa sentença.
E partirá... Levando sóbrias lembranças e eternas doses e neste dia estarei lá!
Fecharei meus olhos e deixarei a chuva cair sobre meu rosto.
Somente a chuva...


Porque garotos?
Não, garotos não choram.


Toni,
08/07/2010


"Early one morning
With time to kill
I borrowed Jebb's rifle
And sat on a hill
I saw a lone rider
Crossing the plain
I drew a bead on him
To practice my aim"

Johnny Cash - I Hung My Head

É...

Ontem uma garota se matou. Ela tirou a vida por causa de amor. Não sei ao certo o que aconteceu. Ela apenas puxou o gatilho da arma dentro da boca. Ela morreu. É um ato supremo. É um ato talvez pensado. Deixou de viver, deixou de sentir. Não sei ao certo o que aconteceu comigo, aquela hora que eu fiquei sabendo do fato. Eu nem conhecia ela. Sei que senti algo terrível dentro de mim. Até senti um pouco de inveja pela coragem que ela teve. É... Alguns sentimentos são mais fortes do que a vontade de viver por eles.


Jeferson Guedes

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Uma parte da lembrança

Estranho tentar entender...
Logo, era tudo.
Logo, era nada.
Agora não sei
O que vou guardar.
Não sei se vou conseguir
Guardar alguma coisa.
Daquela outra vez
Que tentei,
Ela se escondeu de mim.
Ora! Tive momentos que foram dádivas!
Ora... Tudo passa...
De quase nada vale guardar as coisas.
Se já estão tão mortas
Dentro de mim.
Nada me vale guardar coisas mortas.
Mas mesmo assim.
Mesmo que se esconda...
Nem que seja
Uma parte da lembrança.
Mesmo que já não esteja viva.
Essa parte da lembrança.
Ainda assim...
Eu guardo.



Jeferson Guedes

Um desabafo apenas

Hoje eu acordei sentindo alguma coisa errada, bom na verdade nem acordei... Apenas levantei da cama... Não consegui dormir nem por cinco minutos. Essa noite me fez lembrar de tantas coisas... De tantos rostos, de tantos momentos. Senti que esse não é o meu lugar, senti que praticamente nada vale a pena. Levantei com tanta vontade de gritar e sair correndo, pro lado contrário da onde que o sol nasce só pra ter a sensação que o dia não ia raiar de volta... Eu fiz um chá, fumei um cigarro. Fiquei olhando o céu ficar cada vez mais claro. Lembrei uma época atrás. Que eu não pensava tanto. Senti uma falta tremenda de pessoas que eu mais quero bem. E eu não estou mais perto, acho que nunca mais vou estar perto. É... A vida é estranha, feita de momentos estranhos. Momentos errados. Ontem eu pensei em tantas coisas pra escrever. Mas estava tão desanimado. E não escrevi nada. Ontem minha mãe ligou pra mim de volta... Eu não atendi ao telefone. Não queria que ela sentisse que eu não estou bem. Esses dias eu chorei... Chorei de tanto vomitar. Não tirei nem um proveito disso. Só mais incerteza, que preenche os meus olhos todos os dias... Só sei que, da vida... Não espero quase nada. Tudo o que espero se vai... Se vai...

“Que só tua paz pode tomar minhas mãos e me tirar do escuro... Pois nem imagino quanto se passou desde que deixei de contar os muros. E nem sei mais se sigo ou desisto e grito só... Entre os surdos.”



Jeferson Guedes

sábado, 21 de agosto de 2010

Pontos tristes e brilhantes no céu

- Pra quê chorar pelas estrelas?

- Não sei, elas me encantam.

- Elas também me encantam. Mas não choro por elas.

- Eu preciso tanto delas...

- Já eu, queria o céu mais escuro.

- Porque pensa assim?

- Pra você não chorar mais.

- Eu não choro pelas estrelas.

- Então por que escorrem tantas lágrimas?

- Eu não sei... Talvez por elas existirem em tantos céus que já estive.

- Queria poder sentir esses seus outros céus estrelados.

- O que são as estrelas pra ti?

- São apenas pontos tristes e brilhantes no céu.

- E pra ti?

- São as mesmas coisas que disse. E por isso tanto me encantam.


Logo, eu também chorei pelas estrelas.


Jeferson Guedes

Triste o momento que se finda

Triste o momento
Que se finda
Vivemos apenas
Pra guardar lembranças
Daquilo
Que já passou
Daquilo
Que já não temos



Jeferson Guedes

Meu vazio

A cada dia
Tudo passa
Quase tudo
Já não é tanto
(...)
É só no vazio
Que encontramos
Algum espaço
Pra guardar
Nossos sorrisos
Nossas lembranças
Nossos sonhos
(...)
Os dias passam
É o ciclo da vida
A cada dia
Tudo passa
Pouca coisa
Fica guardada
Nesse vazio
Nesse ciclo
(...)
Ciclo que dá a vida
Ao vazio
Que sinto
Ao vazio
Que te guardo
(...)
No vazio
Que criamos
Colocamos
O que somos
O que vivemos
O que queremos
O que perdemos
(...)
“Que silêncio...”
O silêncio
Tantas vezes incomoda
Mas eu
Eu me sinto tão bem
Nas horas
Que não ouço nada
(...)
Nessas horas
É que começo
A preencher
O meu vazio
Que nunca fica cheio
E sim
Sempre meio vazio
A cada dia que passa
(...)
Não sei o que vou encontrar
No caminho que me faço
Quem me dera poder ser virtude
Mas bem sei
É serpente
(...)
Espero te rever
Nesse vazio
Que te guardo
Que é tão imenso
Quão o universo
(...)
E espero
Não te perder
Outra vez
Nem
Te guardar
E sim
Te voltar a viver
Nesse mesmo dia
Nesse exato
Momento
(...)
Os dias passam
Meu tempo
Já não é mais
Enquanto isso
Só me resta
O silêncio
E o meu vazio
Que a cada dia
Fica maior
Sem ter você
Por perto




Jeferson Guedes

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Eu e teus olhares

Sou muitos
Entretanto
Sou eu apenas
Sou apenas eu
Mas sou tantos
Sou eu
Sozinho
Desfigurando a paisagem
Desfigurando meu rosto
Tento encontrar
Através de ti
Um único olhar
Que me faça
Entender o que sou
Ou compreender
Sou eu sozinho
Buscando nos teus olhos
Alguma realidade
Que seja real
Que seja eterna
Que não se dissolva
Em outra paisagem
Que mudo as cores
Apenas por mudar
Faço o arco-íris
Ficar negro
Não quero mais isso
Sou eu sozinho
E através de ti
Quase consigo
Me realizar
Achar a realidade
Na paisagem
Dos teus olhos
Mas são tantos olhares
E eu sei
É apenas um
São os teus olhos
E eu
Sou apenas eu
Sozinho



Jeferson Guedes

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Uma lembrança dos peixes

Minha mãe se preocupava comigo. Ela dizia que eu tinha que ir atrás de tratamento psicológico. Eu dizia que não precisava disso, apenas queria mudar ao meu modo, seguir o meu próprio vento, ver as coisas do jeito que são com meus próprios olhos. Ela não entendia muito bem... Ela me achava infeliz ou ainda acha. Mas acho que não sou infeliz. Apenas sinto o meu próprio vento. Eu sigo os meus próprios desejos. Uma vez quando era criança ela me levou pra olhar uns peixes alaranjados no Passeio Público de Curitiba, há uns dois anos atrás eu voltei lá... Eu sempre ia lá... Mas daquela vez eu lembrei da minha mãe atirando pipoca aos peixes alaranjados. E aquele dia... Eu os procurei... Eles não estavam mais lá... Eu pensei, devem estar mortos... Afinal de contas... Eram peixes e só comiam pipocas que as pessoas jogavam. Será que as pessoas pararam de jogar pipoca e eles morreram de fome? Eu não sei... Sei que eles não habitam mais aquele lugar. Eu acho que é as outras pessoas que precisam de tratamento e não eu. Porque eu nunca joguei pipoca e nem nada pros peixes. Mas mesmo assim... Eles não estão mais naquelas águas daquele parque. Ou talvez pela forma de eu enxergar as coisas... Não consegui mais ver os peixes.



Jeferson Guedes

Tu és a boca que desnudo

Tu és a boca

Que desnudo

É o frio que sinto

Quando não te tenho

É o calor

Quando te encontro

És meu sangue fluindo

Tu és o bom

Do que eu sinto

E também

É o meu medo

O medo que gosto de sentir

Tu és tudo

Sim, és meu tudo

Meu tudo completo

Tu és a gota de orvalho

Que acorda a flor

É a cura da minha angustia

Tu és a minha cura

E tudo o que penso

É voltado a ti

Meus pensamentos são teus

Meu coração também não deixa de ser

Espero que não deixe de ser

Meu pulsar é mais rápido

Quando te respiro

Tu és a boca

Que desnudo

A voz que não canso

De ouvir

É meu tudo

Tu és meu tudo

Que desnudo

E talvez não seja em vão

Pois de incerteza

Eu sempre vivo

Tu és meu melhor motivo

Pra sentir

Tu és a boca

Que desnudo





Jeferson Guedes

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Medo no final da tarde

Eu não gosto
Quando meus olhos
Sentem medo
No final da tarde
Estremecem
Sem ter motivo
Sem ter razão
Devo estar errando
Outra vez
Devo estar alimentando
Meus sonhos
E se o medo
Mais uma vez voltar
Num final de tarde qualquer
Não tenho mais
Pra onde correr
Pra onde me esconder
Não quero mais
Ter que me esconder
E correr pra qualquer lugar
Que venha tudo
Que venha o medo
O medo de errar
O medo de sofrer
O medo de sonhar
Outra vez eu erro
Sei que erro
Sempre errei
Sempre senti medo
Meus olhos estão trêmulos
E eu não sei de novo
Esse motivo
No final da tarde
Eu não sei

Eu nunca sei



Jeferson Guedes

sábado, 14 de agosto de 2010

Ilusão

Meus pensamentos
São os meus pesares
Minha vida
É a pedrada
Oh! O que seria?
Não, não seria nada
Dos adjetivos
Que fujo
De todas as janelas
Todas elas quebradas
A porta está aberta
Pode entrar
Não precisa bater nela
Ela já está aberta
Hora é, como espelho
Hora é, como meu sonho
Hora é, estrela apagada
Hora é, aurora da madrugada
Virtudes tolas
Cheias de coisas estranhas
Teus olhos são castanhos
Como o meu cinzeiro
Que não tem espaço
Mais pras cinzas
Agora só cabem as lágrimas
Vejo tudo
Tudo me agrada
Na verdade não
Tudo me degrada
Do chão
Ao coração
Do coração
A erosão
Sou quase cego
Não me importo
Se tudo que vejo
Tudo me degrada
Tudo é pedrada
Tudo é janela quebrada
Tudo é sonho
Tudo é só ilusão



Jeferson Guedes

Da minha tormenta

Oh! Paz!
Tu me atormentas
Nunca tive calmaria
Sempre tempestade

Agora eu paro
Diante do mar
Que não se revolta
Diante de mim

Às vezes eu me confundo
Com a alegria
Às vezes eu choro
Só por gosto

Oh! Paz!
Não queria tê-la
Queria tempestade
Queria tormenta

Mas de tão já
Me confundo
Com essa alegria
De poder voltar

Praquele mesmo cais
De outros vendavais
Que de tão já
Não me atormenta mais

E essa brisa
Que surge
De tão já
Não me deixa
Me perder
Não me deixa
Naufragar
Não me deixa
Mais chorar


Jeferson Guedes

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Nos perdemos num só

O vento agora
Não se torna
Tão gelado
Mesmo assim
Não sinto meus passos
Eles se perdem
Muito antes de mim
Minhas pegadas
Se confundiram
Com as tuas
E acabamos
Nos transformando
Num só
Mas somos um só
E não estamos
Sozinhos
Apenas
Nossos caminhos
Se cruzaram
Ou se perderam
Com nós mesmos


Jeferson Guedes

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Esboço de nada

Nunca me sinto feliz
e nenhum pouco satisfeito.
Acho que não consigo tirar
nem da bebida
mais um riso.
Das certezas que já tive,
hoje eu vejo tudo errado.
(...)
Eu sou só isso.
(...)
Cheio de cortes
e pontos queimados.
Já carrego essas marcas
por muito tempo.
Eu já me aturo
por muito tempo.
(...)
Tudo incerto.
Tudo escuro.
Tudo quieto.
Tudo imperfeito.
(...)
Tudo me traz a perca.
Tudo não me deixa pensar.
Tudo é uma grande farsa.
O meu tudo não é nada.
(...)
Tudo incerto.
Tudo escuro.
Tudo quieto.
Tudo imperfeito.



Jeferson Guedes

domingo, 8 de agosto de 2010

Dos sonhos que já não tenho

Tudo no escuro
Assombra-me
E não consigo ficar
De olhos fechados
Não queria viver
Não queria morrer
Queria ficar parado
Queria apenas teu ombro
Pra poder me sentir seguro
Nesse escuro
Onde tanto
Procuro-me
Onde tanto
Reviro-me
Onde tanto
Não te encontro
Se daquela noite
Que eu me detinha
Junto de ti
Eu via estrelas
Via constelações
Dentro dos teus olhos
Dentro do teu coração
Toquei tal canção
Que hoje eu só lembro
Nos sonhos
Não consigo dormir
Tu foste pra mim
Meus sonhos
Tu foste
Naquele momento
Bem mais
Do que eu
Preciso
Bem mais
Do que eu
Desejo
Bem mais
Dos sonhos
Que já
Não tenho


Jeferson Guedes

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

As penas dos anjos

Nessa vida os anjos não tocam corneta
Nem flauta
Nessa vida os anjos fumam
E se drogam
Aqui deus não é acolhedor
E nem te perdoa de nada
Aqui deus nada mais é que um mendigo
Que pede esmola
Nessa vida os bons não têm vida
Aqui os bons são mortos na praça
Aqui tudo é desigual
Um tem tudo
Meia dúzia não tem nada
Aqui se faz um texto
Cheio de mágoa
Mas a mágoa que surgiu aqui
Surgiu da raiva
Aqui seus amigos são apenas amigos
Na guerra ninguém ama ninguém
E nem mesmo aqui
Na paz mórbida
Ninguém te salva
Ninguém te ama
Saturno devorava os filhos
Cristo deu a vida
Caim sacrificou o irmão (se não me engano)
Ou foi o filho?
Bom...
Isso não importa
Quando eu era criança
Eu assisti um filme sobre a páscoa
Lembro que quando cristo
Estava sendo crucificado
Ele disse
“Oh! Pai porque me abandonaste?!”
Eu lembro da expressão que o ator fez...
Ele representou muito bem aquela cena
Foi um puro desespero
Sei lá
Guardei isso comigo
Aquela cena
Talvez por culpa do meu pai
Ele me abandonou e me crucificou também
A viver essa vida de desconfiança
Depois disso...
Nem na minha mãe confiei mais
Aqui os anjos não tocam harpa
E sim cheiram cola
Anjos são aqueles que buscam alguma coisa
Mesmo que nunca encontrem
Mesmo que a busca seja em vão
Aqui deus não é todo poderoso
Ele quer apenas seu dinheiro
Para comprar alguma coisa forte
Pra poder dormir na calçada
Aqui nesse texto
Não tem glória
Aqui não tem misericórdia
Aqui só tem mágoa
Mágoa da revolta
Raiva por ter sido deixado
Raiva que se transformou em meu abismo
Que meu abismo tem chão, eu sei
Mas não tem escada
Aqui os anjos não dizem amém
Aqui não tem anjo da guarda
Aqui tem apenas vícios
Aqui não tem mais nada
Aqui os anjos perderam as asas
Ou acho que as asas estão quebradas
Pois nunca vi algum anjo voando
Aqui nesse texto
Eu declaro
Tudo que eu sinto
É o cheiro das penas
Queimando com o meu cigarro



Jeferson Guedes

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Cor dos olhos (falsidade ou sei lá)

Eu não minto
Exceto pra mim mesmo
As pessoas são falsas
E isso é verdade
Pelo menos não escondo
A cor dos meus olhos
Se bem que,
Não sei se são pretos
Ou castanhos
Se ela se deita
Eu não resisto
Queria poder resistir
Mas o pecado
É o que mais me atrai
Traição
Somos fruto disso
Pois somos falsos
A vida é traição
A vida é apunhalada
Oh! Maldição
Não resisti novamente...
Ela se deitou
O corpo dela é tão delicado
Pensava que,
Sei lá
Ocorriam coisas estranhas
Coisas que não tem razão
Mas aconteciam a todo instante
Meu infinito
Se limita na parede
Mas eu faço da parede
Não meu limite
E sim possibilidade
De viver sozinho
De ir apenas atrás de outro corpo gelado
Que se dispersa
De manhã cedo
Uma vez eu pensei
Ela ainda dorme
O que será que eu faço?
Será que eu vou embora?
Será que eu vou amá-la de volta?
Eu sempre fiquei um pouco mais
Enganando...
Um pouco mais
E vivo enganando
E sendo enganado
Por isso
Pessoas são falsas
Ela não se deitou comigo aquela noite
Ela queria
Eu sei que queria
Mas não se deitou
Se fez de difícil
E na outra enluarada
Se entregou
Ela sabia que não ia resistir
Eu também sabia
Mas aquela noite
Ela não quis
Ela foi falsa
Eu fui falso
Me fiz de apaixonado
Ela sabia
Que eu estava mentindo
Ela sabia que eu não presto
Ela não seguiu o conselho das amigas
Ela escondeu a cor dos seus olhos.
E me deu o sorriso
Eu dei outro sorriso a ela também
Mas ela já me conhecia...
Faz muito tempo...
E sabia que eu não era flor que se cheire
Eu não conhecia muito bem ela
Ela podia me passar veneno através do pólen
Vai saber...
Só sei que
Não vi mais ela
Eu não quis mais ver
Ela era falsa demais
Ela disse:
“eu te amo”
Eu não acreditei nisso
Ou podia ser real?
Sei também
Ela só foi outra
Podia ser a única
Mas ela
Me escondeu a cor dos seus olhos
Eu nunca lembrei de alguém
Que não me deixou
Ver os olhos
É um lado da falsidade que eu admiro
Eu deixo ver a cor dos meus olhos
Mas nem sei que cores são
Não sei que horas são
Eu digo
Acho que eu vou embora
Ta ficando tarde
Ela chora
Ela sente que
Eu não vou mais voltar
Eu moro longe dela
Ela sabe que nunca vai me ver de volta
Ela fez por merecer
Não me deixou ver a cor
Ela fechou os olhos



Jeferson Guedes

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Esse eu (eu me olhando fora de mim)

Certa noite,
De tantos devaneios.
Acabei me encontrando
Comigo mesmo.
Era eu!
E eu não sabia.
O eu que me encontrou
Me viu sentado no chão...
Sentindo frio.
Esse eu sentiu pena.
Eu estava chorando.
Então o eu
Me abraçou..
E sentiu as mágoas
Que me corroia tanto...
Sentiu o que eu sentia.
Esse eu
Também sentiu
O frio
Que eu carregava.
Então esse eu
Bebeu da minha garrafa...
E chorou comigo.
No meio do relento
Ou no meio de nada.
Naquela noite
Eu já não pensava
E o outro
Deixou de pensar.
O eu chorou comigo!
Diante dos olhos da rua.
No meio em que tudo
Nos encontrava.
Esse eu
Nunca mais me deixou.
Esse eu
Viveu comigo
A vida inteira.
O eu que me via
Nunca me abandonou.
O eu que chorava
Jamais me deixou
Sentindo o frio sozinho.
Naquela certa noite
Em que tudo
De mim
Desmoronava.




Jeferson Guedes

domingo, 1 de agosto de 2010

Vida tão doida (Vida de acasos)

Essa vida é tão doida.
Feita de tantos acasos...
Nada tão planejado,
E muda tão rápido.

Pena não poder
Mudar o presente.
Pois já pereceram
Tantos acasos.

Tudo tão biológico.
E eu tento ver certo lirismo
Nesses dias...
Mas não consigo.

Quem sabe,
Eu conseguiria
Enxergar
O lirismo dos dias.

Se qualquer acaso...
Pudesse te trazer
De volta
Ao meu lado.


Jeferson Guedes