segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Nau perdida

E a fumaça que deixo escapar pelas narinas me faz brotar o sentimento mais ridículo. Outrora já me vi bem... Mas agora... O tempo passa... Tão incerto que nem acredito mais nas horas. Quantos dias se perderam e minha nau ainda vaga sem um rumo definido.
Nesse mar que me afogo...
Afogo minhas recordações da esperança, dos dias que pensei ter tudo nas mãos... E o vácuo do meu pensamento me arrancou sem dar explicação. Quando nós não pensamos mais em nada vale à pena? Vale a pena não pensar em nada? Queria tanto dar um último adeus antes que meu relógio prossiga horas fartas de tanta queixa e solidão...
Sempre chega a hora que não pensamos em nada e agimos por extinto... Extinto natural dos animais irracionais.
Maldito seja o dia que me deixei viver.
E eu sabia que naquele momento estranho... Estaria prestes de deixar meu pranto comandar minha vida.
Minha nau já não mais flutua e sim se afunda nas águas que me afogo com gosto. Meus pulsos e vértebras já não rangem mais...
E a calmaria da água me trouxe a tempestade de volta ao meu mar... Sem mais sol poente. A noite agora se tornou eterna.
Não conheço cemitério sereno, a não ser o caminho esquizofrênico da minha mente atordoada, que é meu cemitério sem cor, sem túmulo, sem lamento.
Trago folhas de papel onde deixarei meu pesar por não agüentar ser tão forte que eu fui todos esses anos. Anos de espinhos sem flor na ponta do caule.
Quão forte pode ser um homem que não se aceita e não aceita o mundo. Pertenço talvez à outra época, porque não acredito nesse tempo e espaço. Todavia que já me fiz rir, mas acho eu, que, não estava me sentindo e aceitava tudo que me colocará contra a parede.
Tuas mãos tão calmas... Calmas, quanto ópio que fumava, aceitavam-me sem me olhar nos olhos.
Quão mais forte eu ficava naquele tempo que passou... Novos dias vieram e me levaram embora a força e a fé que tinha, em confiar no vento que tu sopravas em minha boca, e já não faz tanto tempo que choro sem ter lagrima.
Peço perdão a tudo. Perdão por não me aceitar, por não querer dividir o tempo contigo.
Nobre princesa.
Não se entregues ao dragão! Resista forte! Fracassei em tentar te libertar de sua masmorra.
Agora padeço no mar, por desistência e por covardia. Se tu soprasses o vento que me fazia ter a coragem que precisava nesse momento... Tenha certeza. Iria voltar ao rumo certo e vagar valente pelo mar até encontrar a masmorra, que te aprisiona na minha ilha do esquecimento.
Já morri e eu mesmo, velei meu velório, no espaço perdido do pensamento. Agora é o vácuo que faz os ventos irem para lugar nenhum.
Perdão. Não quero chorar. Não quero que percebas que não tenho mais lagrimas.
Por ti e por mim.


Jeferson Guedes

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