quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Raios em seus olhos

Essa tranqüilidade do tempo em que vivo hoje, me faz querer ouvir qualquer coisa, um gemido, um grito, um latido, um trovão. Seus raios a me perseguir sem mesmo estar chovendo. Superando até a minha vontade de ser eu mesmo. Já não penso em tentar vencer o vento, deixo apenas que entre sem bater na minha janela. Seu cheiro pode ter desaparecido de mim. E a minha marca de nascença também pode ter sumido. As ruas são geladas e frias ao mesmo tempo. E seus raios ainda me perseguem sem ter êxito. Pode até parecer que sigo a esmo. Porque meu mapa foi queimado para aquecer meu coração. Mas mesmo assim o calor não supriu meu coração gelado. E mesmo que não ouça você dizer meu nome por engano. Fico enganado e penso que meu nome não é esse que eu tenho desde que aprendi a falar. O tempo passa. E eu escrevo. Escrevo a esmo, disso eu tenho certeza, ou quase nada. Quase nada ou quase tudo? Queria que tu me desse à certeza. Mais um cigarro eu acendo. Mais fumaça que sobe e some, ela pode ter se transformado em um anjo com assas de fumaça. Ah lembrei daquilo que tinha esquecido e virado mito na minha cabeça, mas não posso ter cometido aquilo na certeza de ter feito, pois estava bêbado, e meus sentidos já não representavam meu corpo. E aquela chuva que me fez ficar doente por tanto tempo, já secou sobre meu ombro pálido. Posso até estar errado de pensar que aquele tempo passou, mas se passou tão rápido, acho que posso viver ele de novo. Quem sabe da vida? Apenas sei que ela gira em torno do universo alimentando mentiras. A primavera pra mim, não vale quase nada. As flores podem até aparecerem, mas elas morrem em qualquer outra estação. Então pra que comemorar? Comemorar dias fartos de nada? Dias que não ficam no lado bom da lembrança. Falo por mim. Posso até falar sobre mim. Mas se tu não entendes, então nunca irá saber o que na verdade sinto. Acho que devo ser uma obra de arte barata, feita por um mendigo, que de tão leiga é, se tornou muito abstrata a quaisquer olhos humanos. E já não temo mais seus raios, que solta pelos olhos, tentando acertar meu peito.
Jeferson Guedes

Um comentário: