sábado, 3 de julho de 2010

Última conversa entre ele e ela

Ela o abraça.
Ele se afasta dela.
Ele diz:
- Saia da minha casa. Eu não preciso de você.
Ela diz:
- Ninguém consegue viver sozinho. Eu não quero te ver assim...
- Você nunca se importou.
- Eu sei que errei, mas eu sempre te amei...
- Não minta, não precisa mentir. Só quero que você saia e não volte mais.
Ele acende um cigarro, ela tira o cigarro ainda não acesso da boca dele e diz:
- Não fume! Isso vai acabar te matando!
Ele responde:
- Você já me matou muito antes de eu começar a fumar! Você roubou todo o brilho verdadeiro dos meus olhos e colocou um brilho falso no lugar. Aquele brilho que você achava ser certo. Saia daqui...
- Eu não vou sair, eu me importo com você! Nunca quis te ferir tanto.
- Nunca quis... Mas agora eu sangro todos os dias... E até gosto.
E já chorando... Ela fala:
- Por favor, não diga isso... Se eu pudesse voltar atrás...
- Mas não pode! Ninguém pode! Nem mesmo deus pode voltar atrás!
- Você nunca acreditou em deus!
- Eu nunca acreditei em mais nada, depois daquilo que você me fez!
Ela tenta novamente o abraçar... Ele a empurra e acende outro cigarro.
Ela diz:
- Não faça isso comigo... Eu não sei se consigo viver sem ti por perto...
- Eu consegui viver muito tempo sem você! Queria saber por que só agora que você sentiu a minha falta?! Aposto que você não conseguiu suprir teus sentimentos com outras pessoas... Saia daqui Helena!
Gritando desesperada:
- Eu não vou sair sem ter você! Vamos recuperar o tempo perdido...
- Nem mesmo deus consegue recuperar o tempo que já morreu!
- Você não acredita em deus!
- Eu sei... Então já que não acredito em deus... Nada pode fazer o tempo voltar...
- Eu não queria tê-lo só em minhas lembranças.
- Nem em minhas lembranças eu não queria lhe ter mais, Helena!
Ela fica petrificada e sai. Quase não consegue andar. E as lágrimas dela vão marcando seus passos... Lentos passos...
Ele senta no chão e acende mais um cigarro. Pensou muito nela depois daquilo... E agora sabe que ela vai fazer falta... Mesmo do mal que fazia. Mas agora já é tarde... Ele nunca foi de dar segundas chances. E com ela já seria a terceira chance. Ele só queria o bem pra ela... E sabia que ao seu lado ela não seria feliz. Talvez por seu jeito de ver as coisas... Ele via tudo abstrato, quase tudo fora da realidade. Ninguém foi muito de se importar com ele... E muitos só chegavam perto pra pedir cigarro... Ou o fogo. Helena se importava demais...
Muito tempo se passou depois daquela última conversa.
Ela nunca mais voltou. Ele nunca mais olhou pra ela novamente.
Ele sabe que agora o tempo passou... Ela está mais feliz, porém sabe que ela sente saudade...
Ele sente ainda o vazio daqueles passos que Helena deixou no seu chão marcado pelas lágrimas.
Mas foi melhor assim. Melhor viver sentindo saudade... As lembranças se tornam tão duras ao passar do tempo... Ele pensava nela constantemente. Mas agora ela já está tão longe. E tudo o que sentia já está mais do que morto. Morto dentro das possibilidades.
Morto dentro da sua cabeça, mas não ainda do coração.
Agora é só esperar que o vento faça outro rosto em sua vida.
Ou deixar que o vento seque as feridas e não apague seu cigarro.


Jeferson Guedes

4 comentários:

  1. Eu mesmo acredito que todo fim é começo, ah como tenho tido Helenas em minha vida que dizem se importar tanto no fim e depois ficam melhor e fica feliz, acho que para Helena ele hoje é só um nome, uma lembrança que as vezes teima em continuar.

    Amo tuas Letras Jeff

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  2. E infelizmente, a Helena nunca o esqueceu.

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