sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Noite

Hoje,
Eu quis sentir a noite
Dentro de mim.
Quis parar pra escutar
O som de tudo...
O que estava em minha volta.
Senti a brisa,
Senti o pulsar das coisas,
Senti o escuro,
Senti tua falta.

Confesso.

(...)

Senti coisas que eu não queria.
Vi-me tão distante.
Vi-me tão frágil.
Sei que deixei cair
O espelho
E parei pra me ver
Entre os cacos.
Vi as manchas que rodeiam meus olhos...
Senti que meu coração
Apenas tristemente bate.

Não tenho certeza
Do que é feito
O meu sangue.

(...)

Sou um completo vazio
Mas sou repleto de sentimentos.
Talvez,
Eu sempre estivesse certo.
Eu sempre estivesse no caminho,
Nesse mesmo caminho
Que penso estar tão perdido...
Tão desorientado.

(...)

À noite
Que eu sinto,
Faz-me de prisioneiro
Numa masmorra.
Onde o vento só bate
Não trás nada,
Só bate...
E nunca diz nada.

(...)

Dos abraços que tive...
O teu é o mais suave,
O mais belo,
O mais certo.

Deixei o espelho cair.
Apenas por descuido.
Ele caiu.
Partiu-se em tantas verdades...
E cá estou eu
Sentindo a noite...
E a falta...

A sua falta!

(...)

Ora!
A saudade
É tão ruim...
Mas é nela
Que damos valor
As coisas.
Se não fosse ela
Aquela que eu tanto gosto...
Tanto aprecio...
Seria como
Um instrumento,
Que não sei tocar.
E só me serve de enfeite.

Em todo caso...
Tu és meu enfeite.
E deixa minha vida mais bela...
Mas tu não és qualquer enfeite.
És o que tem de mais belo no mundo!

E eu sei tocar...
Se acaso tu sejas um instrumento.

(...)

E eu ainda sinto a noite.
Sinto o barulho.
Adianto meu relógio...
Por medo do atraso,
Pra também me dar
A sensação,
Que não vai demorar tanto assim...
Pra eu voltar a revê-la.

(...)

Não consegui achar a flor...
A noite ofusca as flores,
Mesmo na primavera.

(...)

Outro aniversário passou hoje...
Outra lembrança,
Outro acaso,
Outra cólera.

(...)

Dar-te-ei tudo o que quiseres!
Só saiba como me usar.
Tire proveito...
Se aproveite mais do que eu
Desse corpo,
Que só anda por descuido,
Por tragédia,
Por um sangue imundo.

(...)

Queria poder voar pra tão longe...
E deixar pra trás tantas coisas,
Que me atormenta.
Que não me faz sentir
O que eu quero.
Pois queria sentir o dia!
Não à noite...
A noite é escura.
Meus olhos também são.
Não gosto dos meus olhos...
Como se fossem um poço
De águas turvas.

(...)

O espelho caído.
A noite caída.
Meus olhos caídos.
Meus sonhos ao chão.

(...)

Todavia,
Sei,
Que posso apanhar os cacos,
Dar outra vida à noite...
Tornar meus olhos mais vivos...
E dar vida a quimera dos meus sonhos...
Basta eu querer.
Basta eu ter mais coragem.

(...)

Silêncio tolo.
Ele me faz pensar por demais...
O barulho das coisas que não tem vida...
Que só servem de peça decorativa.
Que não servem pra quase nada.
Apenas estão ali...
E fazem barulho!

(...)

Oh! Maldita noite!
Que não me deixa descansar...
Insônia.
Pensamentos.

A noite só se torna bela...
Quando podemos abraçar
Aquela pessoa que nos faz
Sentir a saudade.
Que não é só enfeite,
Que não está ali só pra decorar,
Que está ali
Sempre ao meu lado,
Tirando-me sorrisos.
E me faz sentir feliz...
E até pensar no dito futuro...
De alimentar incertezas,
Das minhas noites de sonhos bons...
Ou das noites que não consigo fechar o olho...

(...)

Dói
Meu peito.
Doem os cacos.
Dói a vida.
Sem ti...
Dói tanto...
A minha noite.


Jeferson Guedes

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